no vale entre seus seios dormi pela primeira vez o sono dos justos e acordei para a vida dos proletários, ocupando minhas mãos ao te dar trabalho: meu corpo, uma máquina; suas coxas, o gulag onde me autoexilei.
pela manhã, quis absolver a stálin. quis fazer as pazes com a ideia de que era preciso viver em guerra permanente em um único país. a paz já tinha ido longe demais, tínhamos exterminado todos os bons e sobráramos apenas nós.
o futuro imperfeito que nos aguardava só poderia ser fruto da guerra — e eu carregava nas mãos o sangue de inocentes, o meu próprio sangue, e meus olhos eram como os do lince que espreita sua presa. meus caninos rasgavam a carne dos dias com uma força que eu desconhecia e o estômago digeria a vitória.
todas as batalhas que travei em vida, venci. suspeito que, principalmente, venci aquelas em que fui derrotado: como deixar-te à margem da história do que era meu. tudo é agora interligado. na minha tão íntima cronologia dos afetos, é ainda a época do que é seu.