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uma cronologia dos afetos

no vale entre seus seios dormi pela primeira vez o sono dos justos e acordei para a vida dos proletários, ocupando minhas mãos ao te dar trabalho: meu corpo, uma máquina; suas coxas, o gulag onde me autoexilei.

pela manhã, quis absolver a stálin. quis fazer as pazes com a ideia de que era preciso viver em guerra permanente em um único país. a paz já tinha ido longe demais, tínhamos exterminado todos os bons e sobráramos apenas nós.

o futuro imperfeito que nos aguardava só poderia ser fruto da guerra — e eu carregava nas mãos o sangue de inocentes, o meu próprio sangue, e meus olhos eram como os do lince que espreita sua presa. meus caninos rasgavam a carne dos dias com uma força que eu desconhecia e o estômago digeria a vitória.

todas as batalhas que travei em vida, venci. suspeito que, principalmente, venci aquelas em que fui derrotado: como deixar-te à margem da história do que era meu. tudo é agora interligado. na minha tão íntima cronologia dos afetos, é ainda a época do que é seu.

próximos tu sabe, dirce, que teu nome não é dirce? (em prosa poética a gente é obrigado a chamar mulheres pelos nomes rejeitados por eça de queiroz em primo Turmúlio tinha noção de que a asa de uma xícara era a parte menos frágil da sua infância. não era bobo. mesmo assim, sabia que dele era esperado que
últimos posts o atlântico é mais que um oceano breve relato sobre sair do medo treze formas de matar satã roque santo garimpo fragmento 547 eu não sou esse tipo de cara babilônia abdução 2020 vista desimpedida rastro onésimo odisseia bocas de lobo bingo Turmúlio uma cronologia dos afetos tu sabe, dirce, que teu nome não é dirce? o outro é sempre um eu que se move manchete há uma ausência incômoda de tigres nas ruas bermudas your legs are so long you must remember to be kind what’s going on? this my most fundamental truth the waves of the end the war the void the time of death