vou te mostrar partes de mim esquecidas no fundo de gavetas, em interiores de armários que nunca viram o sol.
vou me despir, feito teseu à medusa, dos venenos da minha cabeça.
vou erguer minha cabeça bem alto sobre os ombros, buscando com os olhos o medo que me congelava o corpo, para que as pupilas o petrifiquem feito o choro de um vulcão, feito um iceberg homicida de titãs.
vou me vingar por todo o tempo durante o qual o pavor de ser eu me lançou em uma odisseia à deriva de mim.
vou voltar para casa, depois de tanto tempo, e me enrolar, até adormecer, em um longo tapete tecido pelas mãos de penélope.
vou descobrir que, embora pertencessem a penélope aquelas mãos, a espera que as guiou sempre foi minha espera por mim.