08/11/2023
meus textos têm falado muito sobre linguagem, em parte por causa dos estudos em psicanálise, em parte porque o oposto da linguagem talvez seja a solidão, como tentei trabalhar no texto que acompanhou o post de hoje no instagram:
escuta o que digo, há mais em mim que o desejo. há sentido, há uma revolta solitária corroendo o piso do estômago, um vórtice de crenças expirando no peito, me tragando a paciência, drenando a esperança. há uma dor se irradiando costa afora, me dobrando ao meio feito folha chamex. quanto mais falo, mais sei: sozinhas, as palavras não me dizem nada. assim como eu, sozinho, não me digo nada; assim como toda solidão é um entrevero no qual se encontram (em lados opostos, é claro) meu mundo e eu. eu, um verbo, um substantivo muito querido que implora para ser carregado debaixo do braço, cuidado como criança, embalado até que durma. eu, feito assim pelo excesso de excessos, pelas belas falhas que compõem meu caminho. entenda o que digo: há mais em mim do que cabem as páginas. escuta. só há solidão onde falta a palavra.