muitas vezes desejei que uma boca de lobo me engolisse e me cuspisse na sua vizinhança. ouvi dizer que há mais rios soterrados sob são paulo que ruas pelas quais já andamos. tanta água represada me parece um desperdício. queria lançar meu corpo numa vazão amazônica capaz de romper represas; queria que meus cotovelos metessem medo em pontes, que minhas escápulas fossem os barcos nos quais navega seu êxodo — e que rios cinzas e mares vermelhos se abrissem à minha frente com igual reverência, a ponto de me questionar se há em mim algum poder extraordinário ou se, ainda mais surpreendente, a natureza tenha entendido que nada deve se interpor entre meu desejo e eu.